APRESENTAÇÃO

Artista Plástica

A maior surpresa é o que ela escolheu como meio. Procurou o imperceptível para criar metáforas. Cavou preciosidades sob nosso olhar distraído. Seus meios, seus materiais, suas bases, são julgamentos ilógicos que nos levam para uma nova experiência. Não são conceitos, a não ser aqueles que procuramos na comoção que nos toma a contemplação das suas jóias criadas. Jóias no sentido que a terra nos deu, através de suas mãos – gemas conceituais. Suas idéias programam os conceitos históricos.

Qual século XVIII a inspira? Qual veludo abraça essas texturas? Ou seria a seda? Como tocar esse fátuo limite? Qual colheita secular nos trouxe essa conjugação de mortalidade e eternidade? Seu toque restaura e indica os caminhos do que estava finito, e ela os interrompeu. Aquele pequeno esqueleto, o que sobrou de uma fímbria, de uma concha, de uma tessitura ou transparência que o toque de outras mãos destruiria: como tu do isso se articula para sempre e se nomeia Belo? Essas peças criadas por seus olhos, mais do que por suas mãos, são uma homenagem aos primeiros dias da Criação? Esse léxico das texturas e das formas irreais, nos dá uma nova linguagem – e como classificá-la? São seres – essas peças de arte, que nos olham novamente, agora sob um novo sol.

Há um novo hálito criado nos achados de uma mortalidade imperecível. Restos que se alçam para, conjugados cantarem um cântico novo. E então, as convenções da Arte são alteradas pelo próprio trabalho de arte. A artista não necessariamente interromperá sua reflexão e sua própria arte.

Esperamos que nada impeça sua colheita amorosa, porque as criações se reproduzem generosamente nas plantações da beleza. Quando deixamos suas jóias, o sentimento que nos resta é o de que ela se adiantou a um sonho que não havíamos sonhado, mas que fortaleceu nossa aspiração de harmonia e transfiguração. 

Cyro del Nero